MC Poze do Rodo é solto após prisão controversa, mas continua sendo a voz da favela que o sistema tenta silenciar
A soltura de MC Poze do Rodo nesta terça-feira (3) reacende o debate sobre a seletividade do sistema penal brasileiro e a criminalização da cultura da favela. O funkeiro foi preso sob acusações frágeis de apologia ao tráfico, o que muitos especialistas interpretam como uma tentativa de silenciar uma voz preta e periférica.
A socióloga Adriana Duarte destaca que o problema não está apenas nas acusações, mas no que Poze representa: “Como dizia Bourdieu, o poder tenta manter a ordem simbólica, que no Brasil é elitista e racista. A arte do Poze desafia isso. Por isso, ele não pode só cantar — precisa ser vigiado e censurado.”
Adriana acrescenta que “a prisão e a repressão sofridas pelo funkeiro são parte de uma estratégia histórica do Estado para controlar corpos e vozes da periferia, usando a criminalização como forma de silenciamento”, ressaltou.
O jornalista Hugo Rafael, especialista em cultura e direitos humanos, reforça essa visão: “O caso de MC Poze é um reflexo claro do racismo estrutural que permeia o sistema de Justiça e a sociedade brasileira. Mais do que julgar um indivíduo, o Estado tenta criminalizar uma cultura e uma forma de resistência que vêm da favela.”
A repressão policial durante a saída do cantor, quando uma multidão o apoiava, reforça essa tentativa de controle social. Mesmo em liberdade, Poze segue sob medidas cautelares e o processo corre em segredo de Justiça.
O caso evidencia que o sistema ainda busca calar a favela, mas a voz da periferia cresce e resiste cada vez mais.
